sábado, 1 de março de 2014

#13

Querido Pai,
Faz hoje 5 anos que nos deixaste, e amanhã farias 64 anos. Sim, tu melhor que ninguém sabes estas datas, mas não posso deixar de as recordar.
Sabes, pai, parece que foi ontem que tudo aconteceu. Ainda consigo recordar o nosso último Natal, aquele que tu fizeste questão de passar connosco porque já sabias que estavas doente - sentias. O dia seguinte a essa época festiva no qual foste ao hospital e lá ficaste. Consigo ainda ouvir-te naquele dia do inicio de Janeiro a dizeres-nos "Tenho cancro do pulmão metastizado no cérebro. Mas não quero que chorem, porque vamos lutar e fazer tudo o que for preciso". Mal sabia eu que as metástases estavam em outros locais também. Lembro-me da cirurgia à cabeça, da qual disseram que poderias sair sem andar, e da tua felicidade quando acordaste e sentias as pernas :'), mas eu acredito que sabias que isso aconteceu porque não retiraram o que seria suposto, o tempo que te restava era muito pouco para que ficasses com tão pouca qualidade de vida. Mas ainda mais presente estão aqueles teus últimos dias em casa. A tua revolta em não conseguires movimentar a mão direita, a tua força e a tua entrega a todos aqueles a quem, mesmo doente, continuaste a dar explicações (sim, essas pessoas "devem-te" mais do que algum dia fizeram). Não me posso esquecer do dia em que vieste do hospital e passaste a tua última manha em casa, até já não te aguentares em pé e começares a dizer coisa com coisa e eu ter que ligar à mãe a dizer que tínhamos que te levar de novo para o hospital. As últimas horas naquele hospital frio, a última visita - aquela na qual te deveria ter dito tanta coisa e as palavras não saiam.
Lembro-me de tudo como se fosse hoje. A visita dos primos nessa madrugada, e o telefonema para o hospital na manhã seguinte, naquelee que seria o dia dos teus anos. Os telefonemas, o velório, o funeral... porque por mais anos que viva não me vou esquecer.
Onde quer que estejas quero acreditar que estás a viver aqui connosco, que nos estás a ver e que tens orgulho daquilo que fomos conseguindo. Dói, dói muito saber que não me vais ver terminar o curso, que não me vais levar ao altar quando me casar e que não vais embalar os teus netos, mas sei que vais viver sempre connosco, porque estás sempre no nosso coração, a todas as horas do dia.

Um dia uma grande amiga perguntou-me como é que se fazia para não ter saudades, como é que no Natal eu conseguia estar sempre com um sorriso nos lábios não te tendo comigo. Pois é, não se pode não ter saudades, porque elas estão connosco todos os dias, temos que aprender a viver com elas. Uns dias custa-nos mais viver de braço dado com a saudade do que noutros. Mas aprendemos a pensar que a pessoa que cá não está não nos queria tristes, que temos connosco o seu legado e que é assim que fazemos para que esse pessoa viva tantos anos como nós viveremos, porque essa pessoa vive na nossa memória *.*

És o meu pai, o meu amigo, o meu herói e foste, com todos os teus defeitos, uma das pessoas mais humanas e que mais deu de si aos outros que eu conheço, e são esses valores que me transmitiste que quero ter comigo e para mim. A mãe, há uns meses, depois de me ter ficado a ver da janela disse-me "és mesmo igualzinha ao teu pai, estava a ver-te vires da paragem de autocarro e até a maneira de andar é igual à dele, postura e tudo". Pois é pai, é dos maiores elogios que me podem fazer.

Porque ainda te vejo sentado no teu lugar e ainda te ouço dizer "Se é tarde, viesse mais cedo" :')
Até breve pai, continuaremos a conversar nos meus monólogos diários contigo, porque eu sei que me ouves. Porque eu sei que sempre que singrar tu estás onde quer que seja a sorrir, e sempre que cair estarás lá para me dar força para me levantar. Porque sei que foste tu que puseste a meu lado todas as pessoas que eu tenho hoje, que fizeste com que se cruzassem no meu caminho para que eu nunca caminhasse sozinha.

5 anos...01/03/2014 <3