segunda-feira, 14 de outubro de 2013

#10


A vida por vezes tira-nos muito. Tira-nos o tecto e o chão, atira-nos para o mais fundo de nós, de onde é tão difícil sair. Aquela escuridão que nos envolve, os demónios que se apoderam de nós e nos transformam em alguém que quase não reconhecemos como sendo nós próprios. A solidão que se sente nesse momento, a dor que nos afunda ainda mais, a depressão que chega sem avisar e que insiste em não nos largar. A apatia, a sonolência, e a incapacidade de abraçarmos um futuro mais sorridente de vermos que amanhã pode ser um dia melhor. A tormenta de sermos quem somos, de nos denegrirmos emocionalmente de tal modo que não queremos ser esse mesmo alguém, mas na verdade estamos totalmente impotentes para mudar aquilo que não gostamos. Porque não temos querer, porque não há vontade... há apenas letargia, mágoa. As lágrimas secam, o corpo deixa de sentir, e a cabeça só pensa que tudo isto pode terminar tão facilmente como começou. E é nesse ponto que a vida se toma uma bifurcação, e que temos que tomar uma decisão. É nesse momento que decidimos pôr fim a tudo, porque nada mais nos prende aqui a este pedaço de terra onde nada nem ninguém já nos pode dar algo de bom, onde já não podemos ser nada de bom até mesmo para nós... ou decidimos que temos realmente algo por que lutar, decidimos que tudo aquilo que nos deita abaixo apenas pode tornar-nos mais fortes, que talvez nada valha, na realidade, a grandeza que é a nossa vida, e que por isso ceifá-la não é o caminho.

E é então que renascemos... que sabemos realmente de que fibra somos feitos. Que nem fénix renascemos das cinzas, agarrando em toda a nossa dor, e transformando-a em experiencia, transformando-nos em algo melhor. Conhecemos o mais forte de nós, não digo o melhor, mas percepcionamos estratégias que realmente nem sabíamos que tínhamos, competências que não sabíamos existir.

Porque a vida tira, e a vida dá. Porque ao renascer, também a vida renasce connosco. Seguimos novos caminhos, conhecemos novas pessoas...pessoas essas que se tornam especiais, pessoas que adquirem uma tonalidade colorida, alegrando os nosso dias, fazendo com que o que passou não seja tão duro assim.
Quando perdemos o sentido da vida, a vida encarrega-se de nos mostrar qual o novo caminho a seguir... e temos que caminhar nele com toda a bagagem emocional que ficou connosco, sem tudo o que nos fez mal, com as recordações do bom que vivemos...e com todos aqueles que hoje, no aqui e agora, nos querem bem.
Porque são as pessoas que surgem sem que as procuremos, que surgem quando nada o fazia prever, que se tornam importantes subtilmente e , um dia, mudaram a nossa vida.

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